terça-feira, 11 de agosto de 2009

Guerra civil na Iugoslávia

Memória Globo Um dos maiores dramas da Europa Oriental no final do século XX teve como palco a Iugoslávia, nação erguida no pós-guerra com a união de seis repúblicas (Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Sérvia, Montenegro e Macedônia), além de duas províncias autônomas (Kosovo e Voivodina). - Desde 1945, o país vivia sob o regime comunista, estabelecido pelo ditador Josip Broz, o marechal Tito, que fundou a República Federal Socialista da Iugoslávia. Após sua morte, em 1980, os comunistas começaram a perder o controle do país. As divergências entre a Sérvia, principal república da Iugoslávia, e as demais regiões se agravaram. - Em 25 de junho de 1991, depois de um plebiscito, a Eslovênia e a Croácia declararam independência. Slobodan Milosevic, eleito presidente da Sérvia em 1989, não aprovou a autonomia das duas repúblicas e teve início uma sangrenta guerra civil. - Poucos dias após o início dos ataques à Eslovênia – primeira república a ser bombardeada pelo Exército iugoslavo controlado pelos sérvios –, o correspondente Silio Boccanera e o cinegrafista Luiz Demétrio Furkin foram para Liubliana, capital eslovena. - Durante uma semana, a equipe da TV Globo enviou matérias para seus principais telejornais mostrando a situação do país durante o conflito entre as forças locais e as tropas federais. Os repórteres foram até o aeroporto da cidade, onde eram grandes os estragos causados pelos bombardeios. Nas estradas ao sul da Eslovênia, ficaram no meio do fogo cruzado, mas conseguiram captar imagens impressionantes dos ataques da Força Aérea iugoslava sobre os rebeldes eslovenos. - Em 8 de julho de 1991, a Iugoslávia firmou acordo de paz com a Eslovênia. Logo em seguida, entretanto, o exército invadiu a Croácia e, com a ajuda das milícias sérvias locais, passou a ocupar um terço de seu território. A Globo não enviou nenhum correspondente internacional para a Croácia, e a cobertura da emissora foi feita basicamente com imagens produzidas pelas agências de notícias internacionais. - A Comunidade Européia e a ONU intervieram no conflito, que durou até janeiro de 1998, quando os territórios ocupados pelos sérvios foram entregues definitivamente à administração croata. - Seguindo os passos da Eslovênia e da Croácia, a Bósnia-Herzegovina também declarou sua independência. Num referendo realizado em fevereiro de 1992, a maioria da população votou a favor da soberania, enquanto os sérvios defenderam a permanência da república na Iugoslávia. Com isso, começaram os confrontos em Sarajevo, capital da Bósnia-Herzegovina, em que muçulmanos, croatas e sérvios destruíram-se uns aos outros. A Iugoslávia não participou oficialmente do conflito, mas forneceu apoio financeiro e militar às milícias sérvias, que rapidamente controlaram mais da metade da república. Iniciou-se uma “limpeza étnica” das áreas ocupadas, e campos de concentração começaram a surgir. A situação em Sarajevo chamou a atenção da comunidade internacional, que via todos os dias imagens chocantes do conflito. A população civil da Bósnia estava sendo dizimada, praticamente ao vivo, diante das câmeras das inúmeras redes de televisão. - A guerra na Bósnia completou um ano em abril de 1993. Naquele momento, já havia 135 mil civis mortos, sendo três mil crianças. Mais de um milhão de refugiados não tinham para onde ir. - Em 11 de abril o Fantástico exibiu a reportagem de Pedro Bial e o cinegrafista Sergio Gilz que acompanharam um dos vôos noturnos promovidos pela ONU (Organização das Nações Unidas) para lançar alimentos e medicamentos para a população bósnia, numa operação batizada de “Promessa de Prover”. No avião, que voava a uma altitude de três mil metros para evitar os bombardeios, os correspondentes aprenderam noções básicas de pára-quedismo e tiveram que usar máscaras de oxigênio nos momentos em que os mantimentos eram lançados. Para registrar a missão, o cinegrafista foi amarrado a um cabo que permitia que ele chegasse à ponta da rampa, quando a parte traseira do avião se abria para o lançamento das caixas. O vôo partiu da Alemanha e durou seis horas e meia, duas delas sobrevoando a Bósnia. - Pedro Bial e Sergio Gilz presenciaram de perto os horrores da guerra quando foram enviados para Sarajevo, em julho 1994. Os dois saíram de Zagreb, capital da Croácia, em um avião da ONU, junto com as tropas de paz. - Sérgio Gilz lembra o episódio: “Havia sempre a possibilidade de o avião ser alvejado, o que nos obrigava a tirar uma das proteções extras dos coletes à prova de bala que tínhamos nas costas e peito e sentar sobre ela. Na chegada, o avião taxiou bem próximo a uma proteção de sacos de areia para que pudéssemos sair com um risco menor de sermos atacados pelas tropas sérvias. O caminho do aeroporto para o hotel era a parte mais difícil. Nesse momento, ficávamos mais tempo expostos aos franco-atiradores”. - Durante cerca de 20 dias, a equipe da TV Globo percorreu a capital da Bósnia, completamente devastada pelas bombas lançadas sobre a cidade em dois anos de conflito. Apesar de, na época, ter sido estabelecido um cessar-fogo entre sérvios e muçulmanos, diariamente esse acordo era violado. Munidos de capacete e colete à prova de bala, cinegrafista e repórter percorreram as trincheiras acompanhados por militares brasileiros que faziam parte da força de paz da ONU. Em uma dessas ocasiões, uma bomba explodiu a cerca de 20 metros do local onde estavam. - Bial e Gilz registravam momentos dramáticos da população de Sarajevo. Da janela do hotel onde ficavam, puderam gravar imagens de uma das mais perigosas avenidas da capital, que ficou conhecida como “Sniper’s Avenue” (avenida dos franco-atiradores). Homens, mulheres, idosos e crianças atravessavam a rua correndo, temendo serem alvos dos atiradores, que não poupavam ninguém. - No final de 1995, depois de quase quatro anos de guerra civil na Iugoslávia, chegou-se finalmente a um acordo, conhecido por “Acordo de Dayton”, cidade norte-americana onde foram realizadas as negociações. O conflito na Bósnia deixou 250 mil mortos e 2,5 milhões de refugiados. - Em 21 de novembro, dia em que foi anunciado o acordo de paz, o Jornal Nacional encerrou seu noticiário com uma edição das imagens que marcaram o mundo durante aqueles quatro anos ao som da música Miss Sarajevo, cantada por Luciano Pavarotti e Bono, vocalista da banda irlandesa U2. A canção pedia paz. - Dez anos depois, em 13 de dezembro de 2005, o Bom dia Brasil apresentou uma série de cinco reportagens, produzidas pelos enviados especiais Marcos Uchôa e Sérgio Gilz, sobre a situação na Bósnia. A primeira delas analisou a formação da antiga Iugoslávia e traçou o histórico de “uma das guerras mais sangrentas do século XX”. A série revelou, ainda, que dez anos não tinham sido suficientes para curar as feridas e que, mesmo após a volta para casa de milhares de refugiados, o país continuava dividido.- Em 11 de março de 2006, conforme noticiado no Jornal Nacional, Slobodan Milosevic, “o carniceiro dos Balcãs”, foi encontrado morto no centro de detenção do Tribunal de Haia, na Holanda, onde respondia a processos por crimes contra a humanidade. O correspondente Roberto Kovalick informou que o homem “responsável pelos maiores genocídios na Europa depois da II Guerra Mundial” morreu em sua cela, aparentemente, de causas naturais.

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